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Do andar de baixo

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Enquanto o mundo desenvolvido vive o sol de um novo tempo, assistimos do andar de baixo o alvorecer da normalidade. O negacionismo e o obscurantismo rondam, assombram e atrasam. Aprender com a experiência alheia encurta caminhos, economiza erros. O crescimento de casos está sendo tratado como repique, uma clara tentativa de minimização. Nos tempos de falsa calmaria, a volta à "normalidade" foi estimulada, flexibilizada.

Hotéis e regiões turísticas intensificaram campanhas para atrair visitantes nos feriadões. Praias e parques foram abertos sob justificativa da saturação do isolamento, assim como restaurantes e outras casas de entretenimento. Promoções para acelerar e recuperar vendas se intensificaram.

O incentivo ao consumo sempre ocorreu - a economia não pode parar! A black friday levou pessoas às ruas e às lojas em busca de sonhos de consumo, como se a pandemia houvesse acabado. As datas festivas, o natal e as festas de final de ano estimulam compras e vendas. O setor ao incentivar a demonstração de afeto por meio de presentes, estimula a movimentação e a aglomeração em pontos comerciais e no entorno.

Desde o início da pandemia me questiono: Por que as promoções não são limitadas às lojas virtuais? É difícil perceber que promoções em lojas físicas estimulam o deslocamento, aumentam a movimentação na cidade e nos meios de transporte e, por conseguinte ampliam a chance de transmissão? Álcool gel, uso de máscara, medição de temperatura e distanciamento são medidas de controle, não evitam por si só, a transmissão. Onde fica a responsabilidade social de governantes e empresários? Não isento a responsabilidade das pessoas, mas no momento em que são bombardeadas por propagandas sedutoras, elas são incentivadas, mesmo que indiretamente, a relaxar com as restrições e com os cuidados.

A saúde da economia depende do controle da transmissão. A fiscalização ineficiente das atividades e, por meio de denúncia, contribui para que atitudes de desrespeito fiquem impunes. Para completar os horrores da pandemia, uma campanha eleitoral em que a disputa e o desejo de poder se sobrepuseram ao vírus e a própria preocupação social.

A situação caótica que ingressamos tende a piorar, se as pessoas acharem que se encontrar no natal é essencial. As reuniões familiares e de amigos contribuem para o crescimento do número de casos, dizem os médicos.

O controle da doença, até que a vacinação se inicie e que algum medicamento seja efetivo, será tanto maior quanto for a compreensão de que não vivemos em bolhas. Toda a atividade e movimento impactam, de alguma forma, outras tantas. A exemplo da natureza, fazemos parte de uma teia em que todos os fios estão conectados.

Fazer de conta que não vê, desconhecer o impacto no entorno é uma demonstração de ausência de senso coletivo. Sem o sentido de todo, continuaremos do andar de baixo olhando os avanços para vencer a pandemia.

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